terça-feira, 9 de março de 2010

SURDOS, MAS NÃO INVISÍVEIS
Dia Nacional dos Surdos tem passeata em Niterói

Raquel Junia/fazendomedia.com

"O surdo não é mudo. As mãos falam"

Por Raquel Junia - raquel@fazendomedia.com

No Dia Nacional dos Surdos eles provam que não são mudos. O centro de Niterói presenciou na tarde de anteontem, dia 26 de setembro, uma passeata de pessoas com deficiência auditiva, familiares e amigos. Cerca de 100 pessoas, entre crianças e adultos, carregavam faixas e cartazes. As palavras de ordem - escritas - gritavam o orgulho surdo, a necessidade de conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a importância do intérprete.



A passeata foi organizada pela Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (Apada) de Niterói. Um megafone explicava às pessoas o objetivo da manifestação: os surdos devem ter direito à identidade e à cultura como quaisquer outros brasileiros e brasileiras. Os manifestantes saíram da sede da Apada, no bairro de São Domingos, e foram até a Praça Araribóia, no centro da cidade.

Luciane Rangel Rodrigues, de 39 anos, possui deficiência auditiva e é diretora da Apada.



Para ela, a sociedade precisa aprender a respeitar e a valorizar os surdos. "As pessoas precisam conhecer a língua de sinais. Os filmes, novelas, telejornais precisam ter legenda", diz.

Raquel Junia/fazendomedia.com

E a sociedade, é cega?
Sobre as propagandas políticas teoricamente adequadas aos surdos, ela questiona: "não são todas as propagandas que têm legenda e na maioria delas não é possível entender nada. Contratam qualquer intérprete sem se preocupar com a qualidade". Ana Paula Reis é deficiente auditiva parcialmente e é quem ajuda a repórter a compreender o recado de Luciane. Ana Paula acrescenta: "O intérprete fica tão pequeno na tela que não dá para entender".

Luciane vestia uma camiseta com os dizeres: "Legenda para quem não ouve, mas se emociona!". A camiseta faz parte da campanha pela legenda nos filmes nacionais e também pela adequação das peças teatrais para a população com deficiência auditiva. Um projeto de lei do deputado federal Luiz Antonio Fleury (PTB/SP), de 2004, dispõe sobre as inovações, mas ainda não foi aprovado. A campanha disponibiliza na página eletrônica www.legendanacional.com.br o projeto de lei e também um abaixo-assinado pela aprovação do mesmo.

"O surdo não é mudo, as mãos falam. Se eles conseguem expressar o pensamento, então eles falam", declara Telma Regina, professora da Apada. Ela tem uma filha com deficiência auditiva e acredita que uma das conquistas essenciais para os surdos é o acesso irrestrito à educação. "Educação para todos é apenas mais um jargão. Na verdade, não existe educação para todo mundo", diz.

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Os surdos querem que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) seja conhecida
A Apada atende a crianças de zero a sete anos de idade, surdos ou ouvintes parentes de surdos. Depois dessa idade as crianças são encaminhadas para outras instituições. Segundo Telma, as oportunidades de ensino superior para surdos têm aumentado, mas, majoritariamente em instituições privadas. Logo, apenas uma minoria de deficientes auditivos têm acesso.

Em Niterói, a única instituição de ensino superior pública, a Universidade Federal Fluminense (UFF), não oferece cursos para pessoas com deficiência auditiva. Já a Universidade Salgado de Oliveira (Universo), uma instituição de ensino privada, oferece vagas desde que paguem, além da mensalidade convencional, uma taxa adicional destinada ao intérprete. Outra universidade privada procurada pelo Fazendo Media, a Universidade Estácio de Sá, afirmou que não oferece condições para esses alunos estudarem, mas que eles podem se matricular e levar seus próprios intérpretes sem que tenham que pagar por isso.

Em outubro terá início um curso à distância de graduação em Letras e Libras para surdos e intérpretes em instituições públicas de ensino superior. De acordo com informações do Ministério da Educação (MEC), nove instituições oferecerão o curso - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Ceará (UFCE), Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) de Goiânia, Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade de São Paulo (USP).

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Luciane Rangel pede que as pessoas assinem o abaixo-assinado pela aprovação do projeto de lei
Serão oferecidas 500 vagas, o curso terá a duração de quatro anos e o certificado será emitido pela UFSC. Luciane considera o curso um avanço, mesmo não sendo presencial e questiona porque a UFF, bem mais perto deles, não oferece cursos para os surdos.

Outro grande problema enfrentado pelas pessoas com deficiência auditiva está relacionado ao trabalho. "Os jovens com surdez profunda tem muita dificuldade para conseguirem emprego", conta Marlene Martins, mãe de Viviane, que também é surda. A mãe tem uma avaliação positiva sobre a visibilidade que a luta dos surdos alcançou ao longo do tempo. "No início (há aproximadamente 30 anos) era muito mais difícil, as pessoas não apoiavam e achavam que eles (os surdos) eram malucos", comenta.

Chegando ao destino da passeata, os manifestantes se preparam para uma foto e expressam "malucamente", com voz e gestos, a frase: "Aha, Uhu, viva a diferença!"...




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