sábado, 8 de janeiro de 2011

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PARA FORMAÇÃO DO ALUNO SURDO NO ENSINO SUPERIOR

Christiane Maria Costa Carneiro Penha, Mestranda no Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira/RJ.

Dra. Maria Helena Zamora, Docente da PUC/RJ e do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira/RJ.

Mestre Antonio Ricardo Penha, Teólogo pelo Centro Universitário de Maringá/PR, Acadêmico de Pedagogia no Instituto a Vez do Mestre/RJ
chpenha.penha@gmail.com

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo demonstrar que na Educação a Distância o professor e a Instituição de Ensino Superior propiciam ao aluno surdo instrumentos para o seu desenvolvimento acadêmico, uma vez que no ambiente virtual de ensino, o educador divulga conteúdos educacionais em Língua Brasileira de Sinais e, em Português escrito, numa didática plena, atualizada pelas novas tecnologias, com ferramentas fundamentais para a sua inclusão.
A Educação a Distância está em constante evolução, principalmente na capacitação e qualificação de professores e técnicos que atuam diretamente no processo de formação acadêmica, sendo neste contexto, a modalidade de ensino que atende melhor as pessoas que pela natureza das necessidades especiais, não freqüentam os institutos de ensino presencial.
Verifica-se assim, que o aluno surdo que vive dificuldades para concluir o ensino superior por falta de profissionais bilíngües em sala de aula, tem na Educação a Distância, a oportunidade para ampliar os seus conhecimentos, apoiados numa estrutura pedagógica que propõe adaptações tecnológicas e curriculares em tempo real, eliminando as barreiras geográficas e temporais, que são as causas mais efetiva da evasão nos cursos de graduação.
PALAVRAS-CHAVE: Surdez, Educação a Distância, Novas Tecnologias

INTRODUÇÃO
Este trabalho aborda a utilização do bilingüismo: Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e Língua Portuguesa na Educação a Distância, como método apropriado para a inserção de alunos surdos em um mundo majoritariamente ouvinte. A carência de materiais didáticos para aulas com alunos surdos, a falta de profissionais capacitados nas instituições de ensino e a diferença lingüística que dificulta a imediata compreensão tanto do professor ouvinte quanto do aluno surdo confere a educação a distância um aval para que seja reconhecida como a melhor modalidade de formação inclusiva.
De acordo com Martins e Moço (2009), na comparação, entre os resultados obtidos no ENADE/2006, nas modalidades, presencial e a distância, das 13 áreas avaliadas, o EAD se saiu melhor em sete, nos cursos de Pedagogia, Biologia, Física, Matemática, Ciências sociais, Administração e Turismo. Confirma-se com isso que o referencial para a competência dos resultados de qualquer proposta de ensino está na relação entre professor e aluno associada à metodologia empregada.
É importante que a língua de sinais seja ofertada no cotidiano escolar do aluno surdo para e que ele tenha a oportunidade de interagir com o seu professor, pois assim estabelecerá o seu desenvolvimento lingüístico naturalmente. Atualmente a Libras e o Português escrito vem sendo aplicado em algumas escolas com o objetivo de facilitar a comunicação entre surdos e ouvintes. No entanto a adaptação neste sistema de ensino não é uma tarefa fácil e de acordo com Quadros (2006), implica em adequações necessárias ao desenvolvimento das aulas relativas aos turnos das falas e à disposição física dos alunos na sala de aula.
Foram esses os fatores principais que influenciaram o professor a buscar uma maneira mais eficaz para ensinar o aluno surdo, pois não é suficiente que ele conheça só a língua de Sinais, sendo necessário também conhecer a cultura surda, compreendendo a sua história para então elaborar o material didático/pedagógico. Neste sentido, Kenski (2005, p.1), enfatiza a importância de se observar as diferenças do sistema de ensino entre as escolas presenciais e as instituições que oferecem o ensino na modalidade à distância, para que sejam respeitadas as necessidades educacionais de cada grupo social.
A cultura, tal como a entendemos inclui todos os domínios do espírito e da imaginação, das ciências mais exatas à poesia. Neste sentido, as “universidades” têm certas particularidades que as tornam locais privilegiados para desempenhar estas funções. (...) São geralmente multidisciplinares, o que permite a cada um ultrapassar os limites do seu meio cultural inicial. (...) Portanto todas as universidades deviam se tornar abertas e oferecer a possibilidade de aprender a distância em vários momentos da vida. A experiência do ensino a distância demonstrou que, no nível do ensino superior, uma dose sensata de utilização dos meios de comunicação social, de tecnologias de comunicação informatizadas e de contatos pessoais, pode ampliar as possibilidades oferecidas (Delors, 2003, p. 144).
Vivemos em um país com dimensão continental e, para atingir o princípio da legalidade e ver todos os brasileiros estudando, foi preciso estabelecer novas tecnologias educacionais que possibilitasse isso. Nesse contexto, EAD surgiu como uma proposta inovadora capaz de atingir um grande número de pessoas em áreas remotas. Segundo Castro e Santos (2008, p.9), “no Brasil a EAD começou com a fundação do Instituto Rádio Monitor, em 1939, e depois pelo Instituto Universal Brasileiro, em 1941”. A partir deste marco, outras escolas surgiram com relativo sucesso.
A EAD no Brasil facilitou o acesso do aluno surdo no Ensino Superior, proporcionando conforto e segurança através de um sistema, estruturado na comunicação por videoconferência interativa, entre outras tecnologias, com tradução simultânea para a Língua de Sinais. De acordo com Silva (2007, 160), a língua, independente de sua modalidade, é vista como um instrumento de poder, e a língua de sinais deve ser a língua acadêmica dos alunos surdos, pois lhes permite ser o que sempre foram: surdos.
Alguns projetos para desenvolver ferramentas que auxiliam os alunos surdos na modalidade de Educação a Distância continuam a serem testados. O Projeto Sign Net propôs adaptar a tecnologia da internet para as línguas de sinais, objetivando a criação de bases do processamento para difundir o sistema de escrita Sign Writing (Stumpf, 2007).
O Sign Writing pode registrar qualquer língua de sinais do mundo sem passar pela tradução da língua falada. Foi inventado pela pesquisadora Valerie Sutton e segundo as publicações do Deaf Action Committee For Sign Writing, o sistema pode representar a língua de sinais de um modo gráfico esquemático que funciona como um sistema de escrita alfabético, em que as unidades gráficas representam as unidades gestuais fundamentais, suas propriedades e relações. O sistema comporta aproximadamente 900 símbolos, que fazem a tradução, sendo necessário que o usuário conheça uma ou mais línguas de sinais (Stumpf, 2007, p. 50-52).
Para Quadros, (2006, p.44) “o oferecimento em EAD é uma conquista do povo brasileiro, pois essa modalidade de ensino tem qualidade e vem se aperfeiçoando continuamente”. Professores capacitados em língua brasileira de sinais e alunos surdos auxiliados pelo trabalho dos interpretes, contam ainda, com o apoio de programas produzidos em vídeos que vem com legendas, facilitando a integração com alunos ouvintes nos ambientes virtuais de aprendizagem.
O presente artigo objetiva analisar a modalidade de Educação a Distância, e o oferecimento da disciplina de Língua Brasileira de Sinais que o aluno surdo precisa para se adaptar a este sistema de ensino. Nesse sentido, verificar qual a proposta da Instituição de Ensino Superior para inclusão da disciplina que prevê segundo Stumpf (1998, p. 72), conteúdos como: Escrita dos Sinais (Sign Writing); História da Cultura e Identidade Surda; Trabalho, Cidadania, Política e Integração dos Surdos; Gramática da Língua de Sinais; Informática (convencional e com as novas tecnologias) e por último, aulas práticas para o mercado de trabalho segundo o que prevê a Lei 10.436/2002 e Decreto Lei 5.626/2005.
Para alguns educadores a diferença lingüística impede a elaboração de aulas destinadas aos alunos surdos na mesma velocidade que são preparados conteúdos para os alunos ouvintes. Acreditam que a melhor maneira de formar os alunos surdos, seria o de ensinar primeiro em grupos separados, para depois inserir este grupo nas classes ouvintes.
Discordando dessa alternativa Teske (2008, p.71), diz que não deveria existir um sectarismo no que se refere à EAD para alunos surdos, pois é preciso fazer aquilo que estiver ao alcance, sem perder de vista que já existe tecnologia pronta para ser lançada nesta modalidade de ensino até 2030.

A interação que professores e alunos fizerem com os meios, por si só, não definirá as potencialidades ou as limitações de um aprendizado. Para que o aprendizado ocorra em um ambiente que contemple novas tecnologias de informação e comunicação, deve - se analisar também os meios que são empregados, considerando o contexto de uma metodologia organizada com tecnologia, sem deixar de apontar a relevância do fator humano nessa comunicação (Castro e Santos, 2008, p. 27).
O estudante surdo em sua grande expectativa de aprender independente da modalidade de ensino é um solitário. O fracasso escolar comum a grande maioria do alunado, não faz parte da sua realidade. Somente um pequeno contingente de surdos atingem os anos iniciais de escolarização regularmente matriculados nas escolas públicas, não havendo uma estatística que defina o número de alunos surdos no ensino privado.
A Língua Brasileira de Sinais e o Português escrito devem ser usados para a comunicação com os surdos em todos os instantes da escolarização do EAD formando e, dando continuidade aos estudos em níveis mais avançados privilegiando todos envolvidos na sua aquisição e fluência.
A metodologia empregada na escola regular ainda necessita do empenho de profissionais de educação, no sentido de buscar qualificação e capacitação técnica para promover a democratização do ensino aos portadores de necessidades educacionais especiais e a integração destes com os outros grupos existentes. Não é tarefa fácil. Compor um quadro de professores qualificados para empregar metodologia e procedimentos voltados para a inclusão dos alunos surdos.
A existência das Leis que amparam as pessoas surdas não as insere ou integram-nas nas Instituições de Ensino Superior que existem no Brasil. De acordo com Quadros (2006, p. 45), “as dificuldades encontradas pelos alunos regulares ouvintes com ou sem as necessidades especiais não são as mesmas enfrentadas pelos estudantes surdos”. Observa-se que no sentido de compreensão dos conteúdos curriculares, os alunos surdos demonstram enormes dificuldades
Assim, no âmbito Institucional Escolar como promotor do Ensino Superior e de Integração compreende-se a importância do professor ou tutor em Educação a Distância para o aluno surdo como facilitador dos recursos visuais que tornará a Língua de Sinais mais dinâmica, com uma proposta educacional bilíngüe em que a imagem e o esquema corporal supra as necessidades de aprendizagem do aluno permitindo que supere as barreiras em relação a obtenção de sua certificação no ensino superior.
A Universidade do Estado de Santa Catarina – EDESC mantém desde 2002, o curso de Licenciatura em Pedagogia para Surdos na modalidade à distância e segundo Booth e Beche (2006, p.96), tem assegurado as adaptações curriculares necessárias às formas de comunicação e aprendizagem do aluno surdo.

CONCLUSÃO
O presente artigo partiu da constatação que o EAD oferece recursos para aproximar o aluno surdo em nível de graduação aos processos educacionais do Campus, sem estigmatizá-lo ou rotulá-lo.
O acesso da pessoa surda ao curso superior, é uma vitória e vem ao encontro do processo de inclusão necessário a democratização do ensino-aprendizagem em todos os níveis e instituições do país.
Neste sentido, a EAD oferece ferramentas para o aluno surdo realizar as tarefas previstas no currículo superando as barreiras impostas pela ausência do som.
A tarefa humana de ensinar, com auxílio de ferramentas tecnológicas é um trunfo que viabiliza o processo ensino-aprendizagem e a busca pelo saber tanto na perspectiva do aluno quanto na do professor e, Segundo Kenski (2005), “o professor precisa ter consciência de que sua atuação profissional competente não será substituída pelas tecnologias. Elas ao contrário, ampliam o seu campo de atuação para alem da escola clássica”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOOTH, T. e BECHE, R. C. Formação de Professores na Ótica Inclusiva. Rio de Janeiro: INES, 2007.
CARDOZO, B. (org). Ensinar: tarefa para profissionais. Rio de Janeiro: Record, 2007.
CASTRO, A. N. e SANTOS, G. P. dos. Fundamentos Estruturais e Pedagógicos em Educação a Distância. Rio de Janeiro: Grupo Palestra, 2007.
Constituição da República Federativa do Brasil. Ano: 1988. Artigo 208, Inciso III. Brasília: MEC, 2008.
DELORS, J. (Org.) Educação: Um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2003.
MARTINS, A. R. & MOÇO, A. EAD: Vale a pena entrar nessa? São Paulo: Revista Nova Escola. Ano XXIV. No. 227, 2009, p.52-53.
PIMENTA, N.Curso de Libras I. Rio de Janeiro: LSB, 2007.
QUADROS, R. M. Vestibular: Letras-Libras-EAD. Santa Catarina: UFSC, 2006.
SANTOS, G. P. dos e MARTINS, J. P. Metodologia da Pesquisa Científica. Rio de Janeiro: Grupo Palestra, 2008.
SUPLINO, E. Currículo Natural Funcional. Rio de Janeiro: IHA, 2008.
STUMPF, M. R. Sign Writing e Computação no Currículo da Escola Especial Concórdia – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Anais do Seminário “Surdez, Cidadania e Educação: refletindo sobre os Processos de Exclusão e Inclusão: Rio de Janeiro: INES, Divisão de Estudos e Pesquisas, 1998.
__________Possibilidades de Escrita Pelos Surdos. Anais do Congresso 150 anos no cenário da Educação Brasileira. Rio de Janeiro: INES, Divisão de Estudos e Pesquisas, 2007.

TESKE, O. Surdez e Educação a Distância. In: Anais do Congresso Surdez e Universo educacional (organização) INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Educação de Surdos, 2005
SILVA, V. O Ensino Superior Bilíngue. Anais do Congresso 150 anos no cenário da Educação Brasileira. Rio de Janeiro: INES, Divisão de Estudos e Pesquisas, 2007.

Um comentário:

  1. Boa noite, sou Intéprete de LIBRAS e aluno no curso de Pós em Tutoria em EAD, estou precisando de ajuda na pesquisa que estou fazendo sobre o assunto como IMPLANTAR ALUNOS SURDOS NA MODALIDADE EAD EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR. Agradeço desde já

    Miguel Tenorio
    miguel.tenorio@hotmail.com

    ResponderExcluir

Você está livre para postar seus comentários, porém que não se justifiquem ataques de qualquer ordem ou natureza a terceiros. Vamos respeitar as contribuições que geram novos conhecimentos.