sexta-feira, 1 de março de 2013

NO ESTADÃO: Coisas que eu queria saber aos 21 - Soraya Smaili

Nova reitora da Unifesp diz que não vai deixar de lado as pesquisas em Farmacologia. (Imagem: Márcio Fernandes/Estadão) “É curioso, mas desde pequena eu gostava muito de ciência – além de bonecas e carrinhos, claro. Lembro de pedir para meus pais comprarem na banca fascículos de uma coleção sobre a vida de cientistas. Eu adorava ler aquilo e me imaginar trabalhando num laboratório. Quando tinha entre 8 e 9 anos ganhei um presente que me marcou: um microscópio de brinquedo com duas lâminas prontas para observação da histologia de um inseto. Talvez por isso eu goste tanto de microscópios e os use até hoje nas minhas pesquisas. 'Não comecei minha carreira acadêmica sabendo que chegaria à livre-docência'O cientista pode dar vazão à sua curiosidade por meio da pesquisa. E havia muitas perguntas que eu queria responder na época do vestibular. Guiada por essa vontade, procurei o curso de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto. No segundo ano da faculdade eu já sabia que não queria ser farmacêutica ou trabalhar em farmácia, a não ser que fosse de manipulação. Me interessei pela pesquisa e fiz iniciação científica. Como gostava da parte laboratorial, me especializei em Farmácia-Bioquímica. A iniciação científica me deixou apaixonada pela farmacologia, área que exige muitos conhecimentos de química, bioquímica, anatomia e fisiologia. Você usa tudo isso para entender a ação dos medicamentos e fazer remédios cada vez mais específicos e que produzam cada vez menos efeitos colaterais. Decidi fazer pós e optei pelo mestrado da Unifesp, então Escola Paulista de Medicina. O Programa de Farmacologia, fundado pelo professor Ribeiro do Valle, era (e ainda é) de excelência e pioneiro na área. Estudei o mecanismo de ação dos medicamentos em animais e humanos, algo considerado básico na farmacologia. No fim do mestrado eu comecei a lecionar no curso de Medicina da Universidade São Francisco, em Bragança Paulista. Foi um desafio importante para minha carreira. Eu tinha quase a mesma idade dos alunos! Peguei turmas com cem pessoas, muito críticas e questionadoras, e eu precisava me esmerar para responder às dúvidas. Terminei o mestrado e comecei o doutorado. Mais ou menos no meio do curso, passei no concurso da Unifesp para ser professora do Departamento de Farmacologia. Daí fazer o pós-doutorado no exterior virou um caminho natural. Era como uma exigência dos colegas para manter a excelência do programa de pós. Fiz um pós-doc em Biologia Celular na Universidade Thomas Jefferson, na Filadélfia, e outro em Neurociência e Morte Celular no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em Bethesda (Maryland). Percebi então por que o pós-doc é importante: os cursos ajudaram a estabelecer e consolidar minha linha de pesquisa. A partir dali comecei a trabalhar com neurociência, morte celular e microscopia de alta resolução. Veio o desafio de criar uma nova linha de pesquisa no meu departamento, para me estabelecer como pesquisadora autônoma. A partir de 2000, tive de submeter projetos para Fapesp, CNPq e Capes para conseguir recursos. Com a verba, montei um laboratório de sinalização de cálcio e morte celular. Ao mesmo tempo, participei de uma iniciativa pioneira na Unifesp: eu e minhas colegas Helena Nader (presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e Alice Ferreira fundamos um laboratório de microscopia confocal com equipamentos ultrassofisticados à disposição de qualquer pesquisador. Vinha gente do Incor, do Butantã e até do Rio para usá-los. O laboratório multiusuários criou uma dinâmica muito interessante na Unifesp, porque a pesquisa científica é baseada na colaboração, troca de informações e de metodologias. Se o poder público investe na nossa formação e na compra de equipamentos de grande porte, faz todo sentido que eu coloque eles e o conhecimento que adquiri a serviço da sociedade brasileira. Àquela altura eu já tinha formado doutores, uma das principais funções de um professor pesquisador. E já tinha cursado os pós-doutorados. Me senti preparada para a livre-docência. Foi muito trabalhoso. Fiz cinco provas muito intensas, que exigiram meses e meses de preparação. Mas concluir o processo é muito gratificante. Revisei tudo que tinha feito até o momento, reconheci as coisas boas e redirecionei o foco para o que ainda precisava ser melhorado. Claro que nesse percurso eu tive momentos de crises existenciais. Não comecei minha carreira acadêmica sabendo que chegaria à livre-docência, mas no percurso fui entendendo a necessidade de dar novos passos e tive cada vez mais certeza de que seria pesquisadora e professora. Mesmo agora, como reitora, não quero deixar minhas pesquisas de lado. A pesquisa e a ciência permitem que eu continue a produzir e a repassar conhecimento, formando pessoas para a sociedade brasileira.” ONTEM E HOJE: AS MUDANÇAS NAS PAIXÕES E ÍDOLOS DE SORAYA SMAILI DESDE OS ANOS 80: Eu lia Nietzsche, Jung e Gramsci. Eu leio Milton Hatoum e Hanna Arendt. Eu acreditava que iria mudar o mundo. Eu acredito que estou mudando o mundo. Minha preocupação era ter conhecimento e lutar por justiça social. Minha preocupação é fazer que mais gente lute por justiça social e conhecimento. Eu via o Brasil como um país cheio de contradições. Eu vejo o Brasil como parte do Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro. Fonte http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,coisas-que-eu-queria-saber-aos-21-soraya-smaili,1001465,0.htm

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